O Nascimento da Renda Fixa Digital
Ouro é um
exemplo de commodity, ou seja, corresponde a um produto em que seu valor de
mercado não depende de quem o produziu ou de sua origem.
O Bitcoin (BTC) já foi chamado muitas vezes de ouro digital porque, assim como
o metal amarelo, possui escassez e tem se valorizado desde que foi minerado o
primeiro bloco em 2009.
Ambos ouro e bitcoin tem sido apontado por muitos como potenciais reserva de
valor, especialmente em momentos como o da pandemia do Covid-19, em que bancos
centrais do mundo todo estão imprimindo dinheiro sem nenhum lastro.
Ato contínuo, um aumento na quantidade de dinheiro dos estados-nação deve levar
a uma valorização desses ativos escassos.
O ether (ETH), criptomoeda nativa da blockchain Ethereum também é considerado
uma commodity por possuir características similares ao bitcoin, sendo que ambos
já foram reconhecidos como commodities pela CFTC, agência norte-americana que
regulamenta esses ativos em território americano.
Em termos
de volatilidade de preços, as duas moedas digitais tem histórico parecidos e
também tem se mostrado bastante correlacionados ao longo do tempo.
O ETH em seu lançamento há 5 anos era negociado a $0,30 dólares, chegou a valer
$1400 em janeiro de 2018, teve uma correção para $85 no final do mesmo ano e no
momento em que escrevo esse artigo está sendo negociado a $385 dólares.
Já o Bitcoin teve seu pico de $20.000 dólares em dezembro de 2017, caiu para
$3000 dólares em dezembro de 2018 e atualmente vale $11400 dólares.
Além disso, se o BTC ganhou fama como um possível ouro digital, o ETH seria
como um óleo digital, porque a rede Ethereum possui características que o
bitcoin não possui, como a capacidade de se criar tokens,
contratos inteligentes
e aplicativos
descentralizados.
O óleo digital seria o combustível que turbina os contratos inteligentes e
aplicativos descentralizados
Portanto tanto ouro, BTC e ETH são considerados commodities atualmente.
Todos esses ativos são intensamente negociados diariamente, todos na casa de
bilhões de dólares de volume diário, sendo que o ouro chega a centenas de
bilhões de dólares.
O Ethereum, por ter um potencial ainda pouco explorado e existir há menos tempo,
tem se valorizado acima do ouro e do bitcoin esse ano.
Somente após esse
artigo que escrevi em maio o Ether já se valorizou quase 100% em relação ao
dólar americano, enquanto o ouro e o bitcoin se valorizaram respectivamente 20%
e 30% no mesmo período.
Após essa pequena análise demonstrada acima é possível constatar que somente o fato de ser uma commodity escassa e também possuir algumas características únicas e inovadoras parece já ser suficiente para considerar esses ativos como uma opção bastante atrativa no mundo atual como investimento.
Aliás, esses ativos tem tido performance esse ano bem superior à todas as bolsa de ações ao redor do globo.
O índice Bovespa, por exemplo, que representa à bolsa brasileira está em queda de quase 20% esse ano quando medido em reais e 35% se olharmos em dólares.
Esse artigo não tem como objetivo ser uma consultoria financeira, porém agora vou demonstrar uma nova maneira de ganhar ainda dividendos com o ETH, além de sua valorização em dólares ou real observada recentemente.
Nasce a Renda Fixa Digital.
O Ethereum está iniciando esse ano a mudança da validação das transações de sua rede de Prova de Trabalho (POW) para Prova de Participação, ou termo em inglês Proof of Stake (POS). A implementação oficial está prevista para final desse ano.
Atualmente os validadores do Ethereum são os chamados mineradores, no mesmo sistema do Bitcoin.
Esses mineradores são remunerados com novas criptomoedas ao validar as transações da rede.
Porém para receber essa recompensa é necessário um investimento pesado em computadores potentes para conseguir ser remunerado.
Na Prova de Participação do Ethereum esse sistema vai mudar, e para melhor, se você não for um minerador profissional.
Ao invés de validar as transações baseado no poder computacional, que ao longo dos anos vai aumentando exponencialmente, a recompensa será proporcional à quantidade de moedas, que cada pessoa irá depositar em um endereço específico de um sistema de validação conhecido como node.
Esse sistema de recompensas portanto será muito mais acessível e todas as pessoas que possuírem ETH poderão deixar suas criptomoedas depositas (staked no termo em inglês) e gerar renda fixa passiva com o passar do tempo.
Segundo estimativa da Consensys a remuneração em ETH será entre 12% e 20% ao ano nos primórdios da implementação e deve diminuir para aproximadamente 5% nos próximos anos.
E o mínimo para depositar para ter sua renda fixa digital em ETH e começar ganhar os dividendos é de apenas 0,01ETH, se você usar os serviços da Stakewise.
Para quem possui 32ETH ou mais e um conhecimento mínimo de computação, é possível criar seu próprio node e se tornar um validador do novo Ethereum, conhecido como Ethereum 2.0.
Entretanto,
já existem outras criptomoedas no mercado como EOS, Cardano, entre outras que
já possuem um sistema de POS, porém são plataformas muito mais jovens que o Ethereum
e portanto com risco muito maior de o projeto não ser bem sucedido no longo
prazo. Além disso nenhuma delas sequer ainda foi reconhecida pela CFTC como commodity.
Enquanto isso o Ethereum é o pioneiro em contratos inteligentes e é a segunda
maior criptomoeda em capitalização de mercado e também em volume de transações
diárias no mercado.
Já existem até pessoas que acreditam que em um futuro breve o ETH pode passar o BTC em valor de mercado e para isso criaram um índice que varia de 0 a 100% com várias métricas, incluindo valor de mercado, número de transações díarias, número de endereços ativos, etc.
Quando chegar a 100% seria o momento em que o Ethereum já seria “maior” que o BTC.
Atualmente o valor já é de 59,9%.
Em um mundo em que países emergentes como o Brasil pagam apenas 2% ao ano em títulos de renda fixa (negativo se descontarmos a inflação) e países desenvolvidos da Europa e Japão que já tem juros negativos, o Ethereum surge como opção de investimento tanto como commodity, como também como renda fixa digital.
Por essa razão considero que a implentação do POS no Ethereum vai começar a atrair a atenção do mercado financeiro no curto prazo e vai chamar a atenção de muitos investidores, grandes e pequenos, para essa nova modalidade de renda fixa.
E você? Já está se preparando para os investimentos em um mudo de juros negativos?
Marcelo Pravatta é engenheiro eletrônico formado pela USP, coproprietário do site www.criptos.com.br , entusiasta de criptomoedas e escola austríaca de economia