Por que existe o Bitcoin Cash (BCH)?
O Bitcoin Cash cujo ticker é BCH, tem muito em comum com o Bitcoin que usa o ticker BTC, incluindo todo o histórico de transações desde que foi minerada a primeira criptomoeda em janeiro de 2009 por Satoshi Nakamoto, o criador do bitcoin, até 01 de agosto de 2017.
Se você não conhece nada ou sabe muito pouco sobre o bitcoin veja nosso vídeo introdutório aqui .
O BCH foi oficialmente criado no dia 01 de agosto
de 2017, porque houve uma divisão na comunidade do bitcoin original devido
principalmente ao tamanho máximo dos blocos gerados. A cada 10 minutos
aproximadamente é gerado um bloco contendo várias transações realizadas na rede.
Essa cadeia de blocos que funciona como um banco de dados descentralizados é o
que chamamos de blockchain.
O que ocorreu em agosto de 2017 foi que uma parte das pessoas e mineradores (validadores
das transações), optaram por apoiar uma blockchain com tamanho máximo do bloco
limitado em 1MB, enquanto outra parte acreditava que o tamanho máximo deveria
ser aumentado antes que os blocos chegassem perto do limite máximo da
capacidade. Como o primeiro grupo ficou maior que o segundo, o ticker BTC do
bitcoin original ficou com o bitcoin com limite máximo de bloco em 1MB e o
outro grupo, liderado por Amaury Sechet da Bitcoin ABC, realizou uma
atualização no software para aumentar o tamanho máximo dos blocos.
Atualmente existem vários voluntários que colaboram com o desenvolvimento e manutenção
do software do bitcoin cash e já houve várias atualizações, sendo que
atualmente o limite máximo do tamanho de cada bloco é de 32MB.
Em termos de velocidade de transações isso é equivalente à capacidade do PayPal
e não é difícil um upgrade futuro conseguir uma capacidade igual à da VISA.
Quais as vantagens de permanecer com limite máximo de 1MB por bloco?
Em teoria qualquer
pessoa poderia facilmente manter um backup completo da blockchain porque
esta não iria crescer rapidamente e qualquer computador pessoal teria memória
suficiente para armazená-la.
Porém o próprio Satoshi já havia previsto que no futuro apenas algumas pessoas
ou empresas profissionais manteria um backup completo da blockchain e que isso não
seria um problema para garantir a confiabilidade do histórico de transações.
É importante ressaltar que o limite de 1MB não existia quando o bitcoin foi
criado, sendo ele foi introduzido pelo criador do bitcoin para evitar blocos
desnecessariamente grandes e também ataques DDOS. Na época 1MB era
muito maior que o máximo bloco gerado.
Ainda em 2008, enquanto apresentava a idéia do projeto a criptógrafos, Satoshi foi questionado quanto à escalabilidade do sistema. Esta foi sua resposta, onde deixa claro a solução e enfatiza que somente algumas pessoas precisariam ter que guardar o histórico de transações.
Quais as desvantagens de permanecer com limite máximo de 1MB por bloco?
Lentidão na confirmação de transferência de criptomoedas de uma carteira para outra e aumento das taxas cobradas pelos mineradores. Em dezembro de 2017 a taxa média cobrada pelos mineradores chegou a $50USD e o tempo para confirmação de transações chegou a levar vários dias. Somente como comparação, o bitcoin cash com blocos de até 32MB atualmente conseguiu realizar em um teste 4 vezes mais transações que o pico máximo diário do BTC em 2017 e a taxa média cobrada pelos mineradores chegou a apenas centavos de dólares.
O bitcoin, conforme
definido por Nakamoto no White Paper original de 2008, é “peer to peer electronic cash”, ou seja dinheiro vivo que uma pessoa pode transferir
online diretamente para outra pessoa, sem necessidade de intermediários.
Parecido com a transferência de música através do bit torrent, Kazaa, Emule,
etc.
Esse tipo de transação também é comumente chamada de “on-chain”, visto que toda
transação possui sua respectiva assinatura online e em tempo real na blockchain.
Como o BTC mantém o limite
arbitrário de 1MB por bloco, fica inviável o uso em larga escala devido às
desvantagens citadas acima. Então para solucionar o problema os desenvolvedores
do Bitcoin BTC estão apostando no desenvolvimento de soluções “off-chain”, em
que as transações não ficam registradas nas blockchain e sim em canais que as
pessoas devem abrir e depositar seus BTC nesses canais por tempo indeterminado.
Além disso os próprios desenvolvedores de uma dessas redes off-line, a lightning
network já avisaram que quem depositar atualmente BTC para ser usado na rede
pode perder tudo, conforme tweet abaixo.
Um usuário recentemente afirmou ter perdido 4 BTC usando a lightning network. Veja detalhes aqui nesse artigo da bitcoin.com.
Então para a rede BTC funcionar no futuro serão necessários canais com BTC depositados parecido com um sistema bancário?
Sim, isso parece
bastante provável. Apesar de transações on-chain continuarem sendo possíveis, a
lentidão e as altas taxas tornarão cada vez mais inviáveis o uso em larga
escala para transações na blockchain e então serão realizadas muitas transações
off-chain, na maioria dos casos usando canais de terceiros, porque é improvável
que as pessoas irão abrir canais e fazer um depósito prévio de BTC sempre que
forem transacionar com alguém. O mais provável é que usarão canais de
terceiros. Quem tem dinheiro o suficiente para abrir milhares de canais e
depositar dinheiro para ficar parado? Se você pensou em bancos, acredito que
esteja certo.
E é por isso que muitos libertários, ou seja, pessoas que acreditam na real
separação entre igreja e estado (mais detalhes sobre libertarianismo aqui) já começaram a perceber o problemas do BTC.
Transações off-chain usando canais de terceiros não é exatamente o sonho de
pessoas que querem fazer transações peer to peer sem intermediários, como já existe hoje com bancos, cartões de crédito,
etc.
Qual seria a solução alternativa ao Bitcoin BTC?
Existem atualmente
mais de 2000 criptomoedas segundo o site coinmarketcap, e muitas delas foram ou estão sendo
projetadas para serem moedas digitais para uso em larga escala.
O Ethereum, segunda maior em capitalização de mercado se inspirou bastante no
bitcoin e seu projeto visa atingir uma alta escalabilidade, porém ainda possui
grandes desafios e atualmente também não consegue atingir grande capacidade
para processar transações, como uma rede de pagamento como PayPal ou uma
processadora de cartões de créditos.
Por diversas razões é possível apontar o Bitcoin Cash BCH atualmente como a
criptomoeda que possui as melhores condições para substituir o BTC. Este último
ainda possui características muito interessantes como por exemplo o grande
poder computacional dos mineradores, que garante uma boa segurança da rede à
possíveis ataques. Além disso o BTC tem 68% da capitalização total do mercado
de criptomoedas no momento em que escrevo esse artigo, valor muito à frente do
Ethereum, a segunda colocada que possui pouco menos de 10% do tamanho total do
mercado. Mas exatamente pelo fato de o BCH ser praticamente “um irmão” do BTC,
as mesmas máquinas usadas pelos mineradores para minerar BTC podem ser usadas
para minerar BCH. Atualmente o Bitcoin Cash é a quarta maior criptomoeda em
capitalização de mercado.
Como já mencionado no início do artigo a capacidade do Bitcoin Cash atualmente
é igual à do PayPal e ainda pode melhorar bastante conforme a necessidade,
realizado o aumento do tamanho dos blocos.
Também é possível criar tokens na Blockchain do Bitcoin Cash e usá-los para
digitalizar ativos financeiros, criar programas de fidelidade, uso em games,
etc.
Outro fator a favor do Bitcoin Cash é o apoio de outros grandes nomes do setor
de criptomoedas. A velocidade das transações e alta capacidade para uso em
larga escala do Bitcoin Cash já foi elogiada várias vezes por Vitalik Buterin,
um dos fundadores e desenvolvedor do Ethereum.
Ele recentemente incentivou (veja aqui )
os desenvolvedores do Ethereum a desenvolver aplicações em cima da blockchain
do BCH, porque atualmente o Ethereum tem problemas de escalabilidade.
Qual ou quais criptomoedas irão triunfar?
Acredito que somente o
tempo dirá. O livre mercado é um excelente meio de favorecer os mais
eficientes, desde que não haja coerção e monopólio estatal como ocorre
atualmente com as moedas dos estados-naão existentes. O monopólio estatal
coercitivo gera inflação e portanto perda de poder de compra da moeda. Isso
ocorre em todas as moedas e fica mais evidente em alguns casos específicos como
no caso do Bolivar venezuelano.
Friedrich Hayek, famoso economista da escola austríaca já dizia que moedas
privadas emitidas por empresas privadas seriam melhores soluções para meio de
troca do que as moedas fiduciárias atuais como euro, dólar e real.
É importante notar que a manipulação governamental sempre gerou inflação para a
população, desde as civilizações antigas como Roma até os dias atuais e o
austríaco sabia bem disso.
Se vivesse atualmente, com certeza Hayek e outros economistas da escola
austríaca seriam defensores das criptomoedas.
Na atualidade, um economista que segue o pensamento austríaco e acredita muito
no potencial das criptomoedas é Jeffrey Tucker. O americano é associado benemérito do Instituto Mises Brasil, fundador
e Diretor de Liberdade do Liberty.me,
consultor de companhias blockchain, e ex-editor editorial da Foundation for Economic Education. Esse artigo de 2013
escrito pelo autor mostra que ele sempre foi um visionário desse setor: https://fee.org/articles/bitcoin-for-beginners/
Cuidado com os boatos no mercado de criptomoedas!
Para tentar desmerecer
outras criptomoedas, muitas fanáticos pelo BTC apelidaram todas as outras
criptomoedas de shitcoins, fazendo uma alusão de que se não é bitcoin
não serve para nada. Curiosamente muitas dessas pessoas que seguem esse
discurso não acreditavam no bitcoin nos primeiros anos e foi somente a partir
de 2012 e 2013 quando a cotação do bitcoin disparou que os incrédulos passaram
a virar crentes seguidores.
Somente para citar alguns nomes, como exemplo estão Adam Back e Samson Mow da
Blockstream, especialistas em desenvolver soluções off-chain, ou seja fora da
blockchain, como já comentei neste artigo.
A Blockstream emprega
vários desenvolvedores do Bitcoin BTC e portanto possuem grande poder de
influencia nas decisões atuais sobre futuros desenvolvimentos dessa criptomoeda.
Eles também foram um dos que defenderam arduamente não aumentar o tamanho dos
blocos há alguns anos.
Samson Mow, que ocupa o cargo de CSO (Chief Strategy Officer), ou seja o principal
executivo que realiza a estratégia da empresa chegou ao absurdo de dizer em um
twitter que se pudesse voltar no tempo ele impediria Satoshi Nakamoto de
colocar a palavra “cash” no título do White Paper original do bitcoin.
Em contrapartida, o famoso defensor da liberdade Jeffrey Tucker apóia o Bitcoin Cash e já se manifestou várias vezes em defesa do BCH no Twitter, ainda em 2017, confome abaixo.
E veja também aqui um post seu no r/btc do Reddit em 2018.
Outros nomes de peso também apoiam o Bitcoin Cash. Ninguém menos que Gavin Andresen, um dos primeiros apoiadores e desenvolvedores do bitcoin, apóia o bitcoin cash e discorda do desenvolvimento que o BTC teve nos últimos anos.
Gavin é simplesmente o desenvolvedor que recebeu o “bastão” do Satoshi Nakamoto para continuar atualizando o software do bitcoin, um pouco antes de criador literalmente desaparecer no final de 2010.
Outro nome bastante conhecido no mundo das criptomoedas a apoiar o Bitcoin Cash é Roger Ver, o primeiro investidor em startups do mundo em bitcoin. Ele também é conhecido como “Bitcoin Jesus” por ter sido um grande apoiador e divulgador do Bitcoin desde 2011. Ele continua investindo em diversos projetos, incluindo o site www.bitcoin.com , que possui notícias diárias sobre criptomoedas, carteira de criptomoedas para PC e para celular, Exchange para compra e venda de criptomoedas, plataforma para compra e venda peer to peer de criptomoedas, pool de mineração, ente outros
Portanto, antes de desconsiderar uma criptomoeda como o bitcoin cash porque alguns “gurus” a estão chamando de shitcoin, eu os convido a fazer a seguinte reflexão: Devo confiar somente no julgamento de pessoas que passaram vários anos cegas e descrentes no bitcoin original ou devo também analisar o que tem a dizer os primeiros libertários que acreditaram no peer to peer electronic cash?
Marcelo Pravatta é engenheiro eletrônico, entusiasta de criptomoedas e escola austríaca de economia e organizador do Bitcoin Cash Meetup Brasil – Indaiatuba.
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