Entenda a UST, a moeda estável do Ecossistema Terra-Luna

Antes de falar sobre o UST, uma criptomoeda descentralizada pareada em 1:1 com o dólar americano é preciso entender que basicamente existem dois tipos de moedas estáveis (stablecoins), as centralizadas e as descentralizadas, que podem buscar paridade com dólar, ouro, euro, etc.

Stablecoins centralizadas pareadas com o dólar buscam manter a paridade mantendo reservas de dólar, idealmente na mesma proporção, ou seja para cada 1 dólar emitido em stablecoin é desejável que se tenha 1 dólar em reserva como colateral.
Portanto existe geralmente existe uma empresa que mantém reservas em dólar para garantir a paridade.

Com stablecoins descentralizadas o objetivo é manter a paridade sem depender de uma empresa centralizadora mantendo a custódia.
Sistemas descentralizados buscam maior robustez e evitar fraudes por seres humanos por não depender de confiança de terceiros.
Stablecoins centralizadas como o Tether USDT podem ser congeladas e destruídas da sua carteira.
Por isso é importante lembrar que nesse caso é como se o ativo não fosse seu, pois ele pode ser confiscado a qualquer momento.
O mesmo ocorre com a centralizada USDC conforme mostrado aqui.

Assim como o Bitcoin e o Ethereum, em toeria nem os governos conseguiriam parar uma stablecoin descentralizada pois não existe uma empresa responsável pela custódia.

Existem atualmente dois tipos de stablecoins descentralizadas, as colateralizadas como o DAI, que é emitida pelo protocolo de DeFi MakerDao e as algorítimicas como a UST, da blockchain Terra (LUNA).

DAI mantém sua paridade usando um sistema sobracolateralizado, ou seja, para emitir 1 dólar em DAI é necessário depositar em um contrato inteligente mais de 1 dólar.
O MakerDao foi um dos primeiros protocolos de DeFi a ser lançados ainda em 2017 e o projeto é um sucesso. Atualmente um dos maiores entre as finanças descentralizadas.
Além disso é a maior moeda estável descentralizada em tamanho de mercado ficando atrás somente das centralizadas USDT, USDC e BUSD, conforme mostrado na Figura 1.

Figura 1 – Ranking das maiores stablecoins segundo o Coinmarketcap

Mesmo em vários momentos de quedas no mercado de criptos o DAI sempre mostrou na prática que seu sistema é bastante seguro. A desvantagem da DAI é que por ser sobrecolateralizada ela precisa de muito colateral para ser criada e isso limita um pouco a geração de novas moedas.

Além disso o DAI aceita colaterais em diversos criptoativos incluindo moedas estáveis centralizadas como o USDC.
Ao depositar colateral, por exemplo de ETH no MakerDAO, o usuário consegue fazer um empréstimo e são geradas novas DAI.
Mas caso o preço do ETH tenha uma queda muito grande a posição é liquidada com uma multa.
Isso pode gerar problemas de liquidez como quando ocorreu a grande queda de 12 de março de 2020, onde muitas posições foram liquidadas.
Apesar de o DAI ter se mantido funcionando normalmente foi adicionado como precaução a possibilidade de se depositar USDC como colateral para evitar problemas de liquidez.
O inusitado é que atualmente mais de 50% do colateral usado para gerar DAI é composto de USDC, conforme mostrado na Figura 2.

Figura 2 – DAI usado como colateral para gerar DAI conforme o DaiStats


Então uma moeda descentralizada possui mais de 50% de seu colateral formado pela USDC, uma stablecoin formada por um consórcio fundada pela Circle e com membros como a Coinbase, ambas com sede nos USA e portanto sujeito à ações legais com possível confisco pelo governo americano.

Mas seria possível criar uma stablecoin descentralizada segura, mais escalável e sem problema de liquidez?

Sim, essa é a proposta da UST, a stablecoin descentralizada pareada 1:1 com o dólar do Ecossistema Terra-Luna.
UST é uma stablecoin algorítimica e não usa colateral.

Então isso significa que o UST é criada do nada, sem lastro, igual os bancos centrais fazem como o real e o dólar?

Não, stablecoins algortítmicas não podem ser criadas ao bel-prazer de um indivíduo ou entidade.
Elas utilizam algoritmos, ou seja, mecanismos para garantir a paridade.
Na plataforma da Terra-Luna, a criptomoeda LUNA é o ativo variável que absorve a volatilidade para garantir a paridade do UST em 1:1 com o dólar americano.

Funciona da seguinte maneira. Quando alguém quer criar UST e é importante frisar que qualquer pessoas pode criar UST, é necessário queimar LUNA.

Mas como é feito o processo de queima de LUNA?

Ao vender LUNA no Terra Station, que funciona como um tipo de corretora descentralizada do ecossistema, LUNA é queimada e são gerados novos UST.

Vamos fazer um exemplo prático.
No momento que escrevo esse artigo a cotação de 1 LUNA é aproximadamente $15 dólares.
Então se eu vender 1 LUNA no Terra Station por UST eu estou gerando novos $15 dólares em UST.
É como se você tivesse virado um banco central com poder de criar dinheiro, porém é necessário ter LUNA para isso.
Não é possível criar dinheiro do nada como fazem os bancos centrais.
É importante notar que é possível fazer o contrário também.
Ao vender 15 UST no Terra Station por LUNA você está queimando os 15 UST e criando novas LUNA.

Mas o que acontece se o UST perder a paridade 1:1 com o dólar?

Essa é uma das partes mais interessante e demonstra um conhecimento de livre mercado extremamente apurado dos criados do sistema.
Quando UST perde a paridade, rapidamente ele consegue voltar por causa de arbitragem.
Seguem abaixo dois exemplos de como o sistema de arbitragem funciona para manter a paridade do USD com o dólar, caso o valor de 1 UST fique defasado em relação ao dólar.

Exemplo 1: 1 UST = 0,95 USD
1. Trader de arbitragem compra UST no mercado (corretoras) por $0,95 USD
2. Envia UST para o Terra Station e ao queimar 1 UST é gerado $1 dólar em LUNA
3. $1 dólar de LUNA é então vendido no mercado (corretoras) ganhando $0,05 USD por UST

Exemplo 2: 1 UST = 1,05 USD
1. Trader de arbitragem compra LUNA no mercado (corretoras)
2. Envia LUNA para o Terra Station e ao queimar $1 dólar em LUNA é gerado 1 UST
3. UST é então vendido no mercado (corretoras) por $1,05 USD ganhando $0,05 USD

Como você pode ver, a paridade do UST é mantida pelas ordens de compra atuais do LUNA. Teoricamente, se não houvesse ordens de compra para o LUNA, nada impediria a UST de perder sua indexação.

E quais são as vantagens de comprar LUNA e manter no portfólio para manter o sistema Terra-LUNA equilibrado?

A resposta é simples: incentivo.

Ao fazer staking de LUNA as pessoas que possuem o ativo recebem recompensas do mundo real que podem variar de aproximadamente 5 a 20% ao ano.
Uma parte das recompensas vem através da rede de pagamentos do mundo real CHAI que utiliza a blockchain da Terra-LUNA. CHAI é muito popular na Coréia do Sul e está expandindo para outros países. Possui um cartão de débito bastante interessante. Apesar de rodar na blockchain da Terra e coletar taxas, as pessoas fazem pagamentos sem precisar nem precisar saber detalhes da tecnologia.

Além disso a partir de dezembro de 2020 começaram a ser lançados muitos projetos promissores de DeFi nesse ecossistema como o protocolo Mirror, protocolo Anchor, Pylon e mais de uma dezena de projetos a serem lançados nos próximos meses.
Para utilizar esses protocolos muitas funcionalidades exigem que sejam depositados UST no protocolo.
Para gerar UST mais LUNA devem ser queimadas o que aumenta a escassez de LUNA e pressiona o preço deste ativo para cima, gerando mais um incentivo para quem possui o token.
Além disso todos os projetos lançados tem pagados airdrops iniciais e semanais generosos para quem faz staking de LUNA.

Todos esses incentivos tem garantido um ecossistema saudável para manter a estabilidade do UST.

Já houve inclusive uma provo de fogo em maio desse ano quando o preço do Bitcoin e muitos criptos ativos chegaram a cair mais de 50% em relação ao dólar.
Conforme imagem da figura 3 o UST perdeu seu valor temporariamente mas se recuperou através do sistema de arbitragem pelos holders de LUNA e traders do mercado.

Figura 3 – Gráfico do valor do UST em dólares nos últimos 3 meses


UST já é a quinta maior stablecoin do mercado conforme a Figura 1 e chegando perto da DAI que tem 6 bilhões de dólares, mas possui mais de 3 anos de existência e as limitações de crescimento demonstradas nesse artigo.

A moeda estável do sistema Terra foi lançada oficialmente há menos de um ano em setembro do ano passado.
Porém a partir de dezembro de 2020 com o lançamento do protocolo Mirror a quantidade de UST gerados foi exponencial atingindo atualmente 2 bilhões de dólares.

E para aumentar ainda mais a demanda pelo UST, a Coinbase PRO, maior corretora dos USA acabou de listar a stablecoin.

E muitas outras corretoras devem seguir a tendência em breve como Binance, Kraken, Gemini, etc

Tudo indica que o UST e a plataforma TERRA-LUNA tem um potencial incrível de continuar expandindo.

OBS: O objetivo desse artigo é educacional e não deve ser encarado como recomendação de investimento.

Marcelo Pravatta é engenheiro eletrônico formado pela USP, coproprietário do site www.criptos.com.br , entusiasta de criptomoedas e escola austríaca de economia.