GMX: Uma DEX de Futuros com grande potencial no DeFi

Até o início de 2020 se você quisesse fazer um trade (troca) entre criptomoedas basicamente você deveria acessar uma corretora centralizada como Binance, FTX, Bitcointrade, entre outras ou fazer compra e venda diretamente de uma pessoa (P2P).

E qual o problema disso?

Bom, muitas dessas corretoras tem boa reputação, mas todas elas ficam com a custódia de suas criptomoedas e até então não existiam opções de corretoras descentralizadas (DEX), em que você conecta diretamente sua carteira como a Metamask e ledger nano, por exemplo.

DEXes sempre foram uma das aplicações mais desejadas entre os usuários de criptomoedas porque elas permitem trocar seus ativos sem precisar ceder a custódia para ninguém, seguindo a famosa frase do mundo cripto “not your keys not your coins”.
Isso sem contar o risco de um governo confiscar as criptomoedas em entidades centralizadas e a falta de privacidade da maioria dessas corretoras que exigem várias informações pessoais (KYC – Know Your Customer) para liberar a transações e saques de seus usuários.

Por essas razões citadas acima muitas tentativas de se criar uma corretora descentralizada foram feitas mas todas elas tinham o mesmo problema: falta de liquidez, o que impossibilitava até trades de valores pequenos, como poucos milhares de reais, por exemplo.

Foi então que a Uniswap inovou e basicamente resolveu o problema da falta de liquidez com uma DEX que não usava um book de ordens convencional e sim pools de liquidez na modalidade Automated Market Maker, sempre em pares de tokens, por exemplo ETH-LINK, ETH-AAVE, etc.
Nessa modalidade a liquidez é fornecida por provedores de liquidez que fornecem dois ativos em cada pool e recebem 0,3% do valor transacionado em cada troca (swap), proporcional ao capital alocado em relação ao total da pool.
Essa revolucionária DEX foi lançada em 2018 mas foi somente no início de 2020 que ela ganhou popularidade e grande liquidez para trocas, mesmo para quem precisa negociar dezenas de milhões de dólares.

Ainda em 2020 o volume de transações da Uniswap em alguns momentos chegou a ser maior que o da Coinbase, a maior corretora centralizada dos Estados Unidos e a utilização desse protocolo de DeFi continua muito grande até hoje.
O êxito foi tão grande que o modelo de sucesso foi adotado por muitas outras como SushiSwap, PancakeSwap e Trader Joe e até hoje a Uniswap é um dos maiores protocolos de DeFi em TVL (valor total depositado em smart contracts) com 6 bilhões de dólares, segundo o DeFi Lama.

Porém a Uniswap realiza somente swaps no mercado à vista (spot) e não possui futuros (perpétuos) para apostar na alta (long) ou na baixa (short) com alavancagem.
É importante notar também que o mercado de futuros é muito maior que o mercado spot.

Os volume de BTC e ETH em Futuros é cerca de 6 vezes maior que os de spot conforme as imagens 1 e 2.

Imagem 1 – Volume de Spot comparado com Futuros de Bitcoin (BTC)

Imagem 2 – Volume de Spot comparado com Futuros de Ethereum (ETH)

O volume de Futuros de BTC atualmente acontece quase 100% em corretoras centralizadas, conforme mostrado na imagem 3.

Imagem 3 – Volume de Futuros de Bitcoin (BTC) segundo dados de relatório da The Block

De todas as maiores corretoras de Futuros, somente a dYdX é descentralizada e mesmo se usarmos todas as corretoras do DeFi o volume das DEX em relação às CEX não chega nem a 2% do total de volume de futuros.

Enquanto isso, analisando somente para as DEX, conforme a Imagem 4, podemos ver que o volume mensal variou de 100 a 200 bilhões de dólares por mês.
Porém as maiores DEX não operam futuros e representam mais de 90% do volume transacionado.

Imagem 4 – Volume transacionado em dólares das maiores DEX segundo dados de relatório da The Block

Por isso os dados sugerem que existe um potencial gigantesco de crescimento de DEX de Futuros, podendo tranquilamente ultrapassar 1 trilhão de dólares por mês, comparando com o volume das DEX de spot.

Fazendo uma rápida estimativa, considerando que o volume mensal de Futuros em DEX não ultrapassam ainda 30 bilhões de dólares mensais, existe um potencial de crescimento de pelo menos 30 vezes nos próximos anos.
Isso sem contar que o mercado de criptomoedas ainda é muito novo e tem muito potencial para crescer ainda mais nos próximos anos.
A capitalização de mercado de todas as criptomoedas somadas representa somente 10% do mercado de ouro e 1% do mercado de ações de todas as empresas do mundo, como comparação.

Todo o mercado de derivativos global, incluindo sintéticos de ações, forex, mercado, entre outros chega a mais de 1 quadrilhão de dólares, mais de 10 vezes o tamanho do PIB mundia, segundo a Investopedia.

Isso tudo nos leva a crer que o surgimento e crescimentos gigantescos de corretoras descentralizadas de derivativos parece ser inevitável.

Mas quais seriam os projetos vencedores?

Atualmente a maior delas é a dYdX , com volume mensal de futuros de aproximadamente 25 bilhões de dólares, representando mais de 90% do total das DEX de futuros perpétuos, de acordo com dados da Coinglass e The Block.

Essa plataforma foi lançada em 2018 no Ethereum e funciona com book de ordens.
Todo ativo podem ser facilmente listados como sintético e os longs e shorts podem se alavancar até 25x, sempre usando USDC como colateral.
Apesar de ser a líder atualmente, um dos desafios é manter a descentralização com o book de ordens.
Como os usuários normalmente não querem pagar as taxas de gás da blockchain, principalmente porque com um número grande de ordens o gás poderia aumentar bastante, o protocolo armazena os dados do book de ordem fora de blockchain em um servidor centralizado, aumentando o risco de censura, como a que ocorreu em 2021 com a Uniswap.
Algumas tentativas de escalar, manter taxas baixas e aumentar a descentralização estão sendo feitas e a dYdX migrou em 2021 para um ZK rollup, uma solução de segunda camada do Ethereum, porém o book de ordens continua sendo armazendo fora da blockchain em um servidor centralizado.
Recentemente foi anunciado pelo time de desenvolvimento que a DEX está migrando novamente e agora vai sair lançar sua própria blockchain usando o Cosmos SDK.
A plataforma possui seu próprio token, também chamado dYdX, que atualmente funciona somente como governança, mas no futuro pode também ocorrer mudanças na governança para os detentores do token também começarem a receber parte das receitas (fees) geradas pelo protocolo.

Uma parte bem importante de notar é que os lucros e as perdas dos traders da dYdX são feitos pelo insurance fund (fundo de seguro), assim como ocorre em corretoras centralizadas como FTX, Binance e Deribit.
Na GMX, como irei demonstrar a seguir, foi criado um novo sistema em que o insurance fund na verdade é substituído por um token criado com uma sesta de ativos e os usuários podem participar do fundo comprando esse token chamado GLP e ganhar os rendimentos quando os traders são liquidados.
Nesse último caso é como se você fosse o dono do cassino e recebesse o dinheiro dos traders que perdem o jogo.

GMX: Uma DEX de Futuros em que você poder ser o trader ou o dono do cassino

A GMX é uma corretora descentralizada de swaps e futuros perpétuos, sendo que o maior foco é na segunda função que possui possibilidade do usuário entrar long ou short com alavancagem de até 30x, podendo usar várias tipos de criptomoedas como colateral, incluindo a stablecoin USDC.
O volume mensal está em torno de $1 bilhão de dólares e atualmente é a segunda maior DEX de futuros em volume transacionado.

Ela foi lançada em Agosto de 2021 na Arbitrum (rollup do Ethereum) e em janeiro de 2022 no Avalanche.

Diferente das outras corretoras citadas acima a GMX não funciona com um book de ordens e portanto é mais similar com outras DEX de DeFi populares em que existem provedores de liquidez, porém adicionando também a possibilidade de negociar futuros perpétuos.

A plataforma descentralizada possui dois tokens: GMX e GLP.

GMX é o token de governança que também recebe 30% das taxas coletadas pelo protocolo.

GLP é o token que funciona como uma espécie de “insurance fund”, conforme comentado acima e recebe 70% das taxas coletadas pela plataforma.

O grande diferencial dessa corretora é o token GLP, que funciona como um índice com o objetivo de ser composto de 50% USDC, 25% BTC, 12,5% ETH e 12,5% de AVAX, na versão que roda no Avalanche e na Arbitrum com 45% USDC, 25% BTC, 28% ETH, 1% LINK e 1% UNI.
Quem compra o token, disponível exclusivamente na plataforma da GMX, vira um provedor de liquidez da plataforma com ganhos de aproximadamente 30% APR atualmente na rede Avalanche, sendo que dois terços desse APR vem de fees (taxas) coletadas pelo protocolo e um terço vem de ESGMX (escrowed GMX, que são emitidos pelo protocolo), que podem ser usados para fazer staking e receber APR igual o token GMX ou fazer Vest e ser transformado em GMX após um ano.
Os detalhes completos sobre as recompensas podem ser vistos aqui.

Em plataformas de perpétuos com alavancagem existem pessoas que conseguem ganhar muito dinheiro porém a maioria dos traders historicamente tem prejuízo, portanto ao comprar o token GLP você estaria basicamente apostando contra os traders que operam alavancados.

A quantidade de taxas coletadas está bem alta e já coloca a GMX entre os maiores protocolos em capacidade de gerar receita, conforme mostrado na imagem 5.

Imagem 5 – GMX entre as maiores receitas geradas segundo o Crypto fees

A quantidade de taxas geradas é realmente impressionante, principalmente considerando que a plataforma tem menos de 1 ano e ainda ocupa somente a posição 42 entre as maiores plataformas de DeFi com maior TVL, segundo o DeFi Lama.
Já o token GMX ocupa apenas posição 156 entre as maiores criptomoedas com uma capitalização de mercado de apenas 210 milhões de dólares no momento que escrevo esse artigo, segundo a Coingecko.

E todas essas taxas geradas pelo protocolo são recebidas pelos detentores dos tokens GMX e GLP.

Atualmente todos os trades permitidos tanto para swap como perpétuos são realizados somente nos tokens disponíveis no índice GLP, porém estão sendo implementados sintéticos ainda esse ano para ter mais flexibilidade e adicionar mais facilmente outros ativos.

Facilidade e Eficiência nos trades

É possível realizar trades com slippage baixo pois a GMX utiliza como Oracle uma média entre os preços da Binance, FTC e Coinbase e ainda utiliza como backup a Chainlink caso a diferença média entre os preços das 3 corretoras anteriores seja maior que 2,5%.
Além disso na GMX não existe “price impact” (impacto no preço), como ocorre em DEXes como Uniswap e Trader Joe.
A GMX funciona como se fosse uma OTC (mercado de balcão) graças ao mecanismo do GLP.
Portanto as trocas são bastante eficientes nessa inovadora aplicação descentralizada.

Para realizar as liquidações dos traders são usados sempre os preços alimentados pela Chainlink, por isso a confiabilidade tem sido bastante alta para quem opera futuros.

O time de desenvolvedores da GMX é anônimo e não houve a participação de nenhuma empresa de Venture Capital, nem nenhum tipo de venda privada.
Mesmo assim ela está começando a atrair atenção de muitas pessoas, incluindo Arthur Hayes, fundador da Bitmex, uma das maiores corretoras de futuros centralizadas do mundo que está confiante no projeto e já virou investidor.

Riscos:

Como toda plataforma de contratos inteligentes, existe o risco de um possível hack.
Também é importante notar que quem compra o token GLP não tem ganhos garantidos, pois caso os traders consigam ganhar mais do que perder, os detentores do token GLP teriam que pagar os traders.

O objetivo desse artigo é educacional e não deve ser entendido como recomendação de investimento ou jurídica.


Marcelo Pravatta é engenheiro eletrônico formado pela USP, coproprietário do site www.criptos.com.br , entusiasta de criptomoedas e escola austríaca de economia