A pandemia do COVID-19 vai impulsionar o Ouro e as Criptomoedas
Desde que começou a pandemia do COVID-19 no início desse
ano, os governos dos maiores países do mundo não tiveram a menor dúvida sobre o
que fazer: Ligar a impressora de dinheiro para tentar “salvar” a economia.
O objetivo desse artigo não é discutir se os governos deveriam ou não imprimir
dinheiro nesse momento e sim descrever as consequências de tais medidas.
Vou iniciar mostrando os dados que comprovam que governos realmente decidiram aplicar
essas medidas heterodoxas.
No gráfico da Fig 1 é fácil visualizar a quantidade gigantesca de dinheiro criada em 2020, segundo o site do Federal Reserve (FED), o Banco Central dos Estados Unidos da América.
E no mesmo gráfico da Base monetária acima é possível perceber que na crise do subprime em 2008 foram emitidos pouco mais de 1 trilhão de dólares entre a metade de 2008 até meados de 2010.
Claramente a quantidade de dinheiro fiduciário, como o dólar e o real, são manipulados pelos governos e não existe nenhum lastro em nenhum ativo escasso como o ouro.
E que aconteceu com o preço do ouro no período entre outubro de 2008 a início 2010?
Em setembro de 2008, momento de maior incerteza devido à quebra do Lehman Brothers em 15 de setembro, houve uma queda de aproximadamente 15% na cotação do ouro em dólares, de 875 USD para 735 USD, conforme gráfico da Fig. 2.
Porém no mesmo gráfico é possível observar que apenas um mês depois o ativo dourado já começou a se recuperar e em meados de 2010, quando o FED interrompeu temporariamente a expansão da base monetária, chegou a $1250 USD, ou seja uma valorização de 70% em menos de 1 ano e meio.
Mas espere um pouco, o pico do ouro aconteceu um pouco depois. Conforme a Fig 3 ressalta, na metade de 2011 a cotação alcançou $1821 USD, ou seja, uma valorização de 147% de outubro de 2008 a agosto de 2011.
Então mesmo após a parada da expansão da base monetária o ouro ainda seguiu vários meses se valorizando.
Portanto podemos ver que o efeito da criação de dinheiro não teve efeito imediato no aumento da cotação do ouro, pois foi preciso alguns meses até que esse novo dinheiro chegasse a ter impacto na cotação do metal.
Parece haver realmente uma relação entre a quantidade de dinheiro
emitido pelos governos e o valor de ativos escassos, como o ouro.
Também é possível analisar comportamentos similares em outros períodos da
história em que os governos imprimiram dinheiro freneticamente, destruindo o
poder de compra da moeda. Neste artigo
recém publicado por Ray Dalio, o autor demonstra a perda de valor de moedas
fiduciárias como o dólar americano e a libra esterlina do Reino Unido em
diversas situações como nas guerras napoleônicas, guerra civil americana,
primeira e segunda guerras mundiais e guerra do Vietnan.
Em todos os casos citados acima a impressão de dinheiro pelos governos gerou
desvalorização das suas moedas em relação ao ouro.
Agora vamos voltar ao presente e analisar como está o comportamento da quantidade de dólares na economia e o valor do ouro em dólares.
Será que iremos verificar comportamento parecido com a crise de 2008?
Bingo!
No início de 2020, conforme mostrado na Fig 4, justamente no momento em que se acentuou o nível de preocupação global sobre a pandemia de 2020 e as quarentenas começaram a ser impostas pelos governos, o preço do ouro caiu quase 15%, igual em setembro de 2008. E apenas 1 mês depois o metal também já tinha recuperado seu valor, igual na última crise.
Além disso, no início de março também houve o crash do Petróleo, que derrubou o preço do barril em mais de 50% em poucos dias, o que também impulsionou a queda de vários ativos no mundo.
Quando ocorre pânico no mercado financeiro as pessoas tendem a buscar por liquidez, vendendo vários ativos por moedas fiduciárias, principalmente o dólar americano, a moeda de reserva global, para fazer caixa. Porém quando a poeira começa a baixar, os ativos escassos se recuperam rapidamente e quando existe mais dinheiro em circulação do que havia antes, tendem a superar facilmente os valores anteriores à crise, como foi observado na crise de 2008.
Não sabemos qual será a extensão da atual crise da pandemia do COVID-19, mas comparando com outras pandemias globais como a gripe espanhola de 100 anos atrás, o surto costuma durar de 1 a 2 anos.
Todavia os governos já demonstraram que irão imprimir dinheiro de maneira quase ilimitada, com compras intermináveis de ativos do Banco Central Americano, para injetar liquidez no sistema financeiro.
Quanto maior a extensão da crise, maior será a quantidade de dinheiro criada pelos estados-nação e maior deve ser a desvalorização das moedas fiduciárias devido à essa inflação monetária.
O Banco Central Europeu (ECB) também já anunciou a criação de 1 trilhão de Euros para apoiar a crise.
A China também não fica atrás e já injetou novo dinheiro para estimular a economia desde o início do ano.
Basicamente todas as grandes potências mundiais estão inundando o mundo com dinheiro fiduciário sem lastro.
No entanto o ouro mantém sua demanda constante e é usado há milênios como reserva de valor.
A demanda constante do metal amarelo em um cenário em que existe subitamente um aumento de dinheiro disponível no mundo vai levar a uma inevitável valorização do metal em relação às moedas estatais.
Além disso, não somente o ouro vai se beneficiar. Imóveis, que também são escassos certamente devem se valorizar.
O mercado de ações também, porém tenho ressalvas porque acredito que este já está sobrevalorizado, porém não é objetivo desse artigo falar sobre esse assunto.
Outros metais como prata, cobre e outras commodities também tendem a aumentar de valor.
Todos os exemplos citados acima tem demanda relativamente constante, ou teve uma queda esse ano por causa do choque de demanda devido à pandemia, mas em breve essa demanda deve voltar.
Mas e se existisse um ou mais ativos com demanda crescente?
E se houvessem ativos digitais impulsionados pela era da internet?
E se esses ativos digitais fossem escassos e impossíveis de serem controlados por governos?
Bom, acredito que já perceberam que estou falando das criptomoedas.
Esse mercado que
começou há aproximadamente 10 anos com um grupo pequeno de libertários nerds,
agora já está disponível no mercado financeiro tradicional, como pode ser
conferido aqui, aqui,
aqui
e aqui.
Mesmo assim o mercado de criptomoedas de $240 Bilhões de dólares é extremamente
pequeno quando comparados com a total capitalização do ouro de $8 trilhões de
dólares ou dos $25 trilhões da dólares da NYSE, a bolsa de valores de Nova
York.
Tudo indica que a demanda por criptomoedas ainda vai continuar crescendo.
Portanto as medidas adotados pelos governos para estimular a economia devem impulsionar
fortemente o mercado de ouro e principalmente o mercado de criptomoedas.
E não são somente os millenials, pessoas nascidas após 1981, que compram
criptomoedas, mas também agora os baby boomers como Paul Tudor, nascidos nas
primeiras décadas após a segunda guerra mundial, estão entrando sem medo no mundo
da blockchain.
Os brasileiros já
conhecem muito bem os efeitos devastadores da inflação e principalmente de uma
hiperinflação como a que tivemos nos anos 80 e início dos anos 90.
E mesmo nesse ano de 2020 o Real perdeu 40% do seu valor em relação ao dólar e
ao Euro.
É preciso ficar atento para proteger nossas finanças pessoais.
É hora de se proteger das medidas inflacionárias.
Marcelo Pravatta é engenheiro eletrônico, coproprietário do site www.criptos.com.br , entusiasta de criptomoedas e escola austríaca de economia e organizador do Bitcoin Cash Meetup Brasil – Indaiatuba